Dificuldades de aprendizagem na adolescência: como compreender e apoiar
A adolescência é um período de intensas transformações — emocionais, físicas, cognitivas e sociais — que impactam profundamente a forma como o jovem se percebe e se relaciona com o mundo ao seu redor. É uma fase marcada por buscas, conflitos, descobertas e redefinições, em que o adolescente está construindo sua identidade e aprendendo a lidar com novas exigências internas e externas. Nesse contexto de tantas mudanças simultâneas, é natural que alguns desafios apareçam ao longo do percurso escolar.
As dificuldades de aprendizagem, quando surgem, não devem ser vistas como um sinal de fracasso ou desinteresse, mas como manifestações que merecem escuta, compreensão e cuidado. Muitas vezes, elas indicam que algo precisa ser olhado com mais atenção — seja no campo emocional, familiar, escolar ou mesmo no próprio funcionamento cognitivo do adolescente.
Mais do que buscar respostas rápidas ou rótulos, é essencial criar espaços de acolhimento e escuta, onde o adolescente possa se expressar, ser compreendido em sua singularidade e receber o suporte necessário para seguir aprendendo e se desenvolvendo.
Entre os fatores mais comuns relacionados as dificuldades de aprendizagem, podemos destacar:
Fatores emocionais e psicológicos
Ansiedade, desmotivação, tristeza ou estresse podem impactar diretamente a capacidade de concentração e memória. Quando a mente está ocupada tentando lidar com emoções difíceis, sobra pouco espaço para assimilar conteúdos escolares. Além disso, a autoestima também exerce um papel importante: acreditar em si mesmo é parte essencial do processo de aprender.
Fatores cognitivos e neuropsicológicos
Alguns adolescentes apresentam dificuldades específicas de aprendizagem, como dislexia, discalculia ou transtornos de atenção. Essas condições não estão ligadas à inteligência, mas sim à forma como o cérebro processa determinadas informações. Quando não reconhecidas, podem gerar frustração e desânimo, tanto no adolescente quanto na família.
Fatores Sociais e Ambientais
O ambiente em que o adolescente vive faz toda diferença. Pressões sociais, bullying, mudanças familiares, excesso de cobranças ou falta de suporte adequado na escola podem interferir na disposição para aprender. Da mesma forma, a ausência de cobrança, de rotinas ou de envolvimento da família com a vida escolar também pode contribuir para a desmotivação e o baixo desempenho. Muitas vezes, um jovem que se sente inseguro, desamparado ou sem referências claras de expectativa e apoio pode expressar isso através da queda no rendimento escolar.
Fatores Biológicos
Alterações sensoriais, como dificuldades de visão ou audição, são causas que podem passar despercebidas. Além disso, a privação de sono — tão comum na adolescência — afeta diretamente o desempenho cognitivo e a capacidade de manter a atenção. Outro aspecto importante é a alimentação: dietas desequilibradas, com excesso de ultraprocessados e carência de nutrientes essenciais, podem comprometer a concentração, a memória e a disposição. Fatores nutricionais, muitas vezes negligenciados, têm impacto direto no funcionamento do cérebro e na aprendizagem.
Mudanças no Conteúdo Programático
Na adolescência, o conteúdo escolar se torna mais complexo e segmentado, com disciplinas mais específicas como Física, Química, Sociologia e Filosofia. Esse aprofundamento exige maior capacidade de abstração, organização e interpretação por parte dos estudantes. Nem todos os adolescentes se identificam com esse novo formato, o que pode impactar diretamente seu desempenho. O desinteresse por determinadas áreas e a dificuldade de adaptação ao estilo de ensino mais técnico podem gerar frustrações, insegurança ou queda no rendimento. A afinidade com os conteúdos, aliada às aptidões individuais, passa a influenciar significativamente o envolvimento e a motivação do aluno.
A motivação também conta
Aprender algo que não faz sentido ou que parece distante da realidade vivida pode ser muito desafiador. Conectar o conhecimento ao mundo do adolescente é fundamental para manter a motivação acesa.
Como os pais podem ajudar?
Como cada adolescente é único, não existe uma única resposta para lidar com as dificuldades de aprendizagem. No entanto, algumas atitudes podem fazer toda diferença:
1. Mantenha um espaço de diálogo aberto e acolhedor.
Perguntar como o adolescente se sente, sem julgamentos ou cobranças imediatas, cria um ambiente seguro para que ele possa compartilhar suas dificuldades.
2. Observe sem rotular.
Evitar expressões como “você é preguiçoso” ou “você não se esforça” ajuda a reduzir o peso emocional sobre o jovem. Muitas vezes, por trás da aparente falta de empenho, existe uma luta interna.
3. Busque compreender o que está além dos boletins.
Notas baixas ou dificuldades em determinada disciplina podem ser apenas a ponta do iceberg. Um olhar atento pode revelar cansaço emocional, insegurança ou conflitos maiores.
4. Considere a escuta profissional.
Em muitos casos, um acompanhamento psicológico ou psicanalítico pode ser essencial para ajudar o adolescente a entender e elaborar suas vivências. A terapia oferece um espaço onde ele pode encontrar novas formas de se relacionar consigo mesmo, com a escola e com o mundo.
5. Valorize as pequenas conquistas.
Reconhecer o esforço, e não apenas o resultado, fortalece a autoestima e encoraja o adolescente a seguir tentando.
Um convite à escuta e à construção
Cuidar de um adolescente que enfrenta dificuldades de aprendizagem é, acima de tudo, um ato de escuta e paciência.
Cada jovem traz sua história, seus desafios e suas potências.
Quando olhamos além dos sintomas e oferecemos suporte verdadeiro, abrimos caminho para que ele também se descubra capaz de crescer, aprender e florescer no seu próprio tempo.

